quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Vinícius de Moraes - Soneto da quata-feira de cinzas


Soneto da quarta-feira de cinzas

Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada
-
Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada
-
Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A fala de amor, talvez perjura
-
Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.

Vinícius de Moraes

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